AMPM | Edição 7: urgente e extraordinária
Nova York, Pavement, Beastie Boys, Ramones, Panqueca World Tour 2023, diners, dive bars, furadas turísticas e mais um tanto de filosofia barata. Você já assistiu a "Curtindo a Vida Adoidado?". É ótimo
Esta é a 7ª edição da newsletter batizada “As Melhores Playlists do Mundo”. Prioritariamente, uma seleção de canções, livre e pretensiosa, sobre tema determinado. Mas é também sobre tudo, como música. Abaixo, nova edição extraordinária.
Voltei do recesso acachapante em Nova York e se você não se identifica, ao menos em algum momento, com a apresentadora Ana Furtado (“Fui feita para sempre estar de férias”), aka Mulher do Boninho, bem, talvez precise rever alguns conceitos. Você já assistiu a um filme chamado “Curtindo a Vida Adoidado”? Recomendo, é ótimo.
E voltei para Curitiba convicto: experimentei dos melhores dias em 44 anos. Três apresentações da minha banda preferida, Pavement, 53 músicas diferentes executadas, quase o repertório completo. Fui com a sensação de que poderia bater um certo enfado ali pela metade do segundo show. Retornei com a certeza de que tivesse outros três, e eu iria deslumbrado. Foi: lindo.
Aproveito, então, para terminar o interminável guia pessoal da cidade. E receba o que Adam Keefe Horovitz, aka Ad-Rock, dos Beastie Boys, afiançou por ocasião da inauguração da placa em homenagem ao grupo, erguida num poste cravado na esquina da Rivington St com a Ludlow St, na porção sul de Manhattan:
“Obrigado a Nova York por nos ensinar o que olhar, o que ouvir, o que vestir, como amar, como viver”.
E Mike Louis Diamond, aka Mike D, acrescentou:
“Nós não poderíamos ter nos tornado o que nos tornamos sem crescer em uma cidade como Nova York”.
Eu é que não vou definir melhor, certo?
Paranoia, gentrificação, pasteurização, descaracterização, especulação, exclusão. É tudo verdade. Não é mais aquela NY fervilhante dos anos 60 e 70, caótica e insidiosa, que gestou, como nenês-diabo, o rap, a disco music e o punk rock. Nem o cenário de Scorsese e Allen.
Mas, ainda, e para sempre, circular pelos Five Boroughs é dobrar, como citado acima, na Beastie Boys Square, devidamente eternizada por causa da capa do álbum de estreia do trio de MC’s locais, o festejado “Paul’s Boutique”.
Ou é passar pelo simpático Albert’s Garden, no Lower East Side, local onde Johnny, Tommy, Joey e Dee Dee foram emparedados para a capa do primeiro lançamento dos Ramones, o conjunto que nenhuma Inteligência Artificial seria capaz de inventar.
Ou, também, você pode estar na estar na estação de metrô consagrada pelo Pizza Rat e nem sabe!
Isto posto, como diria aquele, vamos ao que interessa, mais algumas sugestões, sem nenhuma credibilidade, sobre Manhattan e Região Metropolitana. Vem comigo.
NOTAS ESTADONIDENSES* (OU DICAS DE NY)
*eu já disse que odeio quem usa essa expressão, né?
Eu nunca fui de panqueca, mas, de repente, me vi adicto nos discos de farinha de trigo, ovo e leite. E por isso protagonizei rigorosa Panqueca World Tour, mesmo que apenas nos EUA, na linha do que a NBA fazia, de forma bastante arrogante, quando titulava os campeões da liga do país como World Champions. Indico com energia: Locanda Verde e Clinton St Baking Company. Você conhece uma excelente panqueca em Curitiba? Me chama.
Eu adoro os chamados diner, que até hoje não sei se fala como se escreve ou se pronuncia “dáiner”. Quanto mais velho, decadente e brega, melhor. Conheci quatro maravilhosos, todos com o clássico cardápio infinito. O Tick Tock, vizinho do Madison Square Garden; o Star on 18, um raríssimo empreendimento em Manhattan que é uma “casa”; o Malibu, no Chelsea, quando num determinado momento achei que participaria, involuntariamente, de uma cena de Pulp Fiction; e, por último, o Tom’s Restaurant, que se você é um huge fan da sitcom Seinfeld, como eu, já identificou o point de Jerry, Elaine, George e Kramer (e não, por dentro não tem nada a ver, é só a fachada que era usada na série). Todos ótimos!
Se no Brasil é boteco, nos EUA é dive bar ou, mais antigamente, tavern. Bares pequenos, baratos, balcão de madeira, luz indireta, jukebox, sinalização em neon e, claro, bons drinks. Fui a três, de níveis distintos. O bar mais antigo de NY, Pete’s Tavern, na ativa desde 1864 (é isso mesmo), versão lux luxo dos dive bars, no Gramercy Park; o Peter McManus Cafe, um tremendo muquifo no Chelsea, que eu evitei as onion rings pois, sei lá, não me senti seguro; e o Corner Bistro, intermediário, no Greenwich Village, que se você frequentasse há alguns anos, quem sabe dividiria o balcão com o chef ultracool e personalidade da mídia, Anthony Bourdain.
Você deve estar pensando: “nossa, mas o André só vai em lugares legais e eu passo as férias em Balneário Camboriú, como consigo fazer isso?”. Bem, primeiro que não é assim, se eu contasse os vacilos, ia faltar espaço, e segundo que você pode me contratar como guia. Mas, falando sério, fui conferir três novas, ou não tão novas, atrações de NY. A primeira, o observatório do One World Trade Center, o prédio mais alto da cidade, substituto das Torres Gêmeas, e a vista é ainda mais impressionante do que a do King Kong pendurado no topo do Empire States. A segunda, a Little Island, uma montagem sobre o Hudson River no Chelsea de gosto refinado e excelentes materiais de construção. E a terceira, o chamado The Vessels, também no Chelsea, um abacaxi modernoso em aço e estrutura reluzente que é o típico destino de quem tem vontade de colocar um vídeo do próprio rosto nos telões da Time Square. Aliás, veja que mórbida ironia: as plataformas da construção foram fechadas, pois viraram um excelente palanque para a ancestral prática do suicídio. Não precisa ir, pois eu já fui pra você.
Obrigado, e logo mais tem mais!
Se por algum motivo você chegou aqui sem conhecer o princípio da newsletter, fundada em playlists, seguem sugestões de leitura: