Onze músicas sobre New York que não são aquelas duas lá que instalaram na nossa cabeça
Se o assunto é manjado, sem apelação. A playlist não inclui o clássico daquele crooner de olhos azuis muito menos aquela que você canta na escadaria vermelha da Times Square fingindo que está ao piano
New York, ou Nova Iorque, como preferir, é a cidade do mundo mais retratada pelas artes. Está, portanto, felizmente, preservada, em todas as suas identidades e nuances, para todo o sempre, em filme, música e livro. Mesmo que, há décadas, os Five Boroughs (a saber, Manhattan, Bronx, Brooklyn, Queens e Staten Island) já não representem a terra multicultural, pulsante, selvagem, suja, perigosa… em resumo: o paraíso.
Mas, fica tranquilo. Se o assunto é manjado, não vamos apelar. Abaixo, não estão incluídas as ótimas “New York, New York”, na voz do Frank, aquele, nem “Empire State of Mind”, consagrada por Alicia Keys e Jay-Z, dois hinos sobre a cidade tão incrustados na mente que, ao desembarcar no JFK, La Guardia ou Newark, já começam a tocar no cérebro e isso vai te perturbar por onde você for, acredite.
Aliás, falando em Sinatra, e em NY, há uma bela história contada pelo Crooner Número 1, de um pedido que recebeu de um capo das Five Families, numa cantina em Little Italy. O mafioso queria impressionar uma gatinha e perguntou se o maior cantor do planeta não poderia, gentilmente, chegar à mesa em algum momento, dar uma moral. O Blue Eyes topou e, ao aproximar-se, ouviu: “PORRA, FRANK, não vê que estou ocupado?”.
Mas, vamos que interessa…
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#11 músicas sobre New York que não são aquelas duas lá que instalaram na nossa cabeça
#1 | N.Y. State Of Mind - Nas
Parceria de Christopher Edward Martin, aka DJ Premier, filhotinho do Brooklyn e lendário produtor da track que é o sumo do hip hop noventista, e Nasir bin Olu Dara Jones, aka NAS, cria do Queens, MC que explodiu com o álbum Illmatic e depois, bem, depois deu uma sumida. “Estado mental de NY” é uma viagem sinistra entre trutas y tretas pra bem longe do saco daquele touro de Wall Street que a turma acha bonito apalpar.
#2 | Old New York - Agnostic Front
O conjunto forjado nos becos e terrenos baldios do Lower East Side, na perdição de Alphabet City, é um símbolo de NY. Liderado pelo cubano-americano Roger Miret, e o novaiorquino Vincent Capuccio, aka Vinnie Stigma, ambos linha de frente do hardcore mundial, o AF pintou em 2015 um saudoso retrato de quando a cidade ainda não havia sido tragada pela gentrificação e os Starbucks.
#3 | I’m Waiting For The Man – Velvet Underground
Se você estivesse por Nova York lá pelo anos 60 e, de repente, quem sabe, precisasse de heroína para dar uma transcendida, a aflitiva canção do primeiro álbum do seminal conjunto de Lou Reed, dos maiores cronistas da cidade, serviria como uma espécie de guia para subir até o Harlem buscar um pacotinho do pozinho marrom que não serve para temperar Miojo.
#4 | An Open Letter to NYC – Beastie Boys
Eu poderia incluir aqui, com justiça, a manjadíssima “No Sleep Till Brooklyn”, o party song hit do álbum de estreia dos efusivos Garotos Feras, na apropriada tradução para o português, todos nascidos em Nova York. Mas fiquemos com a homenagem do já maduro trio de rappers escrita em 2004, ainda sob o trauma do atentado ao World Trade Center, três anos antes.
#5 | Across 110th St – Bobby Womack
Da trilha sonora do filme de mesmo nome, da vigorosa leva da Blaxploitation, a canção revela o cenário ao longo da rua que dividia o Central Park do Harlem. Cafetões, prostitutas, traficantes e viciados na porta de entrada ou, se preferir, circulando pela última fronteira para o gueto nova-iorquino. E que pancada soul.
#6 | Chelsea Morning – Joni Mitchell
A legendária artista folk canadense descreve uma manhã num bairro Chelsea idílico, pintado pelo arco-íris, sol e música que entram pela janela do quarto, leite, torrada, mel e uma tigela com laranjas sob a mesa. Do lado west de Manhatan, o residencial Chelsea sempre foi conhecido pela diversidade cultural e, outrora, reduto gay.
#7 | Take the A Train - Ella Fitzgerald & Duke Ellington
Podia ser só um bilhetinho escrito por The Duke para ensinar o amigo Billy Strayhorn como chegar até sua casa no Harlem, utilizando a então nova linha de metrô, A, que corta Manhattan de ponta a ponta, correndo debaixo da 8 Avenue, desde Far Rockaway, no Brooklyn. Virou também um clássico, eternizado por uma vozes diversas, entre elas a da Primeira Dama da Música, Ella Fitzgerald.
#8 | NYC Ghosts & Flowers – Sonic Youth
A mais barulhenta banda da cidade presta reverência aos poetas beats que circularam por NY, viraram pó entre flores e fantasmas, como entrega o título da faixa que nomeia também o álbum da virada dos anos 2000. Um passeio soturno por uma madrugada chuvosa e agônica na Big City.
#9 | Living for the City – Stevie Wonder
O single de 1973 de Stevevland Hardaway Morris, aka Stevie Wonder, narra a trajetória de um younk black man que deixa o Mississipi em direção de New York sonhando com uma vida melhor. E, ao desembarcar na Big Apple, a vida “melhor” que ele encontra é ser ludibriado por um traficante, enquadrado pela polícia e acabar em cana.
#10 | 53rd & 3rd – Ramones
A intersecção entre a 3 Av com a E 53St já foi um point de michês frequentado por uma figura que se tornaria célebre do punk rock mundial: Douglas Glen Colvin, aka Dee Dee Ramone. Na canção incluída no álbum de estreia do conjunto novaiorquino, o tresloucado baixista revela em ritmo telegráfico algumas das suas desventuras pelo local à procura de um troco para um pico, navalhadas de advertência e fugas desembestadas dos cops.
#11 | Brooklyn’s Finest – Jay Z & Notorious B.I.G.
Shawn Corey Carter, aka Jay-Z, partiu de um project em Bedford-Stuyvesant, no Brooklyn, onde, quando adolescente, passava, digamos, produtos pra lá e pra cá, para cumprir ascensão tão vertiginosa quanto os 540 metros de altura do One World Trade Center, o prédio erguido para substituir as Torres Gêmeas e mais alto da cidade. Tornou-se um rapper bilionário, sim, bilionário, e na caminhada cunhou uma série de clássicos sobre NY, como o produzido com Notorious B.I.G, outro MC legendário da área, que tombou no caminho. Ah, ele também é conhecido como o marido da Beyoncé.
Links para a playlist: Spotify e Deezer
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Vou seguir com a contribuição de “Coney Island Baby” do Lou Reed. Pra sair um pouco da metrópole pela linha F e pegar um arzinho fresco na praia.
Fala André! Eu colocaria New York Minute, do Don Henley (Eagles fan por aqui), nessa lista. É do fim dos anos 80, mas caberia perfeitamente num certo 11 de setembro.