AMPM | Edição 21: Quem é você em "We Are The World"?
Altruísmo. Megastars. Documentário. Netflix. Michael Jackson. Fome na África. Americanos salvando o mundo. Estrelas. Los Angeles. Quincy Jones. Bigode sensual. Jaqueta de couro. Reunião. The Goonies
Esta é a 21ª edição da newsletter “As Melhores Playlists do Mundo”. Uma seleção de canções, livre e pretensiosa, sobre tema determinado. Mas é também sobre tudo, como música.
Volto, em outro formato, sem playlist, após um período de recesso. Eu adoro encher o saco dos outros com a frase: “você sabe o que é a vida? É aquilo que acontece enquanto você está no celular”. Convenhamos, tem coisa mais cafona que gente que fica olhando o aparelho enquanto você está falando com ela?
Mas, vamos lá…
Você viram “A Noite que Mudou o Pop”, o documentário sobre “We Are the World”? Está na Netflix, recomendo. Sei que a newsletter é forte na seção 40+, mas se alguém mergulhou tão fundo nas drogas a ponto de esquecer, foi aquela reunião de artistas americanos em 1985 com o objetivo de exterminar a fome na África cantando uma música super melada.
No filme, os bastidores da empreitada são contados a partir dos relatos do principal articulador, Lionel Richie. O ex-The Commodores e um dos bigodes mais incensados do planeta foi quem elaborou a ideia de outra figura legendária, Harry Belafonte, também cantor, mais ator e agitador político.
De cara, a dupla amealhou o maior trunfo possível, a participação, simplesmente, dele, sim, ele, Michael Joseph Jackson, aka Michael Jackson, o filho preferido de Joe Jackson. E aí, todo mundo foi topando gravar, num noite só, enfurnados num estúdio em Los Angeles, o jactancioso hino da campanha americana em prol do Continente Mãe.
Olha o elenco, sem contar os supracitados: Stevie Wonder, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Paul Simon, Willie Nelson, Tina Turner, Ray Charles, Cindy Lauper, Diana Ross, entre outros, todos sob a batuta, literalmente, de ninguém menos do que Quincy Jones.
A sensação dos 96 minutos, recheados de entrevistas, são, claro, as vigorosas imagens dos bastidores. E aí, a graça, na minha pretensiosa opinião, é notar como, mesmo num encontro de divas e medalhões, a dinâmica espelha uma reunião qualquer, de meros mortais, como da turma da firma, da faculdade, do futebol, da academia, do colégio etc.
Assim, abaixo destaco alguns perfis clássicos:
O sem-noção: Stevie Wonder.
Aquele que é indicado como uma sinal contundente da existência de uma Força Superior é o pilhado da madrugada altruísta. Faz gracinhas, orienta o caminho para Ray Charles ir ao banheiro, atua, numa curiosa ironia, como se ninguém estivesse vendo o que ele estava fazendo. E ainda tenta emplacar um verso numa língua diferente que ninguém entendeu qual seria o propósito.
O popular: Michael Jackson.
Todos tentam colar no fera de jaqueta de general dourada e cabelo empapado de Soul Glow. Marra que o Rei do Pop acentua ao calçar seu Ray-Ban preto pra cantar sua parte solo.
A animada: Diana Ross.
Pra cantora formada nas Supremes, que foi colecionar hits multimilionários em carreira solo, tudo é festa. Ross veste a camisa do evento, está sempre sorridente, é divertida e, suprema (desculpe) demonstração, chora ao final da gravação. O motivo? “Não queria que essa noite acabasse”. Que fofa.
Os maduros: Ray Charles e Tina Turner.
Já escolados, vividos, experimentados no showbizz, a dupla quer mesmo gravar logo “essa merda”, não exatamente com essas palavras, e cair fora.
A espalhafatosa: Cindy Lauper.
A cantora que chegou a rivalizar com Madonna nos anos 80, e que seremos eternamente gratos pelo hino e trilha sonora de Goonies, “Girls Just Wanna Have Fun”, tem uma presença marcante, com sua voz original, todo aquele colorido nos cabelos e cheia de balangandãs. Aliás, o mostruário de bijuterias que carrega no pescoço em dado momento atrapalha a gravação. Digamos que Lauper tem “personalidade forte”, pra usar um dos meus eufemismos pra gente desagradável.
O carismático: Bruce Springsteen.
De jaquetaço de couro, mas sem a faixa na cabeça, The Boss é o personagem cool, meio selvagem, o garotão que arranca suspiros generalizados. E quando solta o trovão emitido por seu gorgomilo, sai de baixo.
O esquisito: Bob Dylan.
Ali, no estúdio, não importava muito que o cara era um mito da música americana e sinônimo de um gênero clássico. Dylan e sua voz anasalada ficam deslocados por boa parte do período. Foi necessário o socorro do engraçadinho Wonder ao piano e esvaziar a sala para o antissocial gênio folk destravar e, finalmente, libertar o grunhido.
O gente boa: Lionel Richie.
O homem que nos deu “Easy”, “Brick House”, “Machine Gun”, “Say You, Say Me” e “All Nigh Long” (ounai), entre tantas pérolas, inventou aquela loucura. Logo, atua como mediador, incentivador, contemporizador, dá atenção para todos, pede os burgers, mostra-se um verdadeiro líder, cioso de suas responsabilidades, mas sensível e camarada.
A despeitada: Sheila E.
Namorada de Prince, em dado momento a percussionista e cantora percebe que tinha sido convidada apenas para ver se atraía o mega-astro. Pode acontecer.
Que legal, vou assistir! Ps. só quem viveu a época desse evento da música pegou a referência do Soul Glow 😄🙋♀️