AMPM | Edição 19: Toda de bundinha de fora
Zaca. Cabeludo. Dona Marta. Solana Star. Rio de Janeiro. Recife. Ilha Grande. Salvador. Axé. Porradaria. Cordão. South Central. Saxofone. Malucos. Praia Longa. Ecletismo. Ai. Que. Delícia. O. Verão
Esta é a 19ª edição da newsletter “As Melhores Playlists do Mundo”. Uma seleção de canções, livre e pretensiosa, sobre tema determinado. Mas é também sobre tudo, como música.
Vocês pensaram que tinha acabado, né? Eu também. Mas voltamos, após breve interregno. É importante se ausentar e, você sabe, o grande lance em 2024 é remar no contrafluxo do algoritmo, aparecer menos para significar mais. Dê um folga de você aos outros e a si mesmo. Vai ser bom pra todo mundo.
Mas, retomo: você curte o Verão? Eu amo. Desde que, claro, possa me refrescar, seja na prática do melhor dos esportes de mar, o surfe de peito (aka jacaré), mamandinho uma água de coco ou, até mesmo, encafuado num quarto, lendo um bom livro, ar-condicionado no modo “frio ardido”.
Lembro de grandes turnês encaloradas. Em Ubatuba, apanhado pela maré. Em Salvador, drogado de acarajé. Na Itinga, gelado na Lajinha. A adolescência toda em Santa Terezinha. Não posso reclamar: de janeiro a março, por todo o Brasil, cozinhei no mormaço.
Pra tudo isso há uma trilha sonora, naturalmente. Abaixo, numa heterogênea e incompleta seleção, músicas que sublinharam verões e outras que entraram por entrar.
#19 | Toda de bundinha de fora
#1 | Uma Noite e 1/2 - Marina Lima
Começo com um clichê, pra fixar bem a ideia. Não sei se eu já falei, mas eu queria muito ter vivido os anos 80 no Rio de Janeiro. Os 90 também. Os 70, 60, 50 e 40. Já a partir dos 2000, só de férias. E a música composta por Renato Rocketh, e imortalizada por Marina Lima, fede a Rio de Janeiro. Lançada em 1987, ocupou o dial das rádios do país no verão de 88, quando, do Leme ao Pontal, os mais bem relacionados ainda fumavam o conteúdo das latas arremessadas ao mar pelo Solana Star, o Morro Dona Marta seguia sob a tensão da guerra Zaca vs. Cabeludo, e o então prefeito Saturnino Braga, meses mais tarde, decretaria, oficialmente, a falência da cidade. Parece ótimo, não? Fui conhecer o Rio apenas no ano seguinte, e até hoje há água do mar no meu ouvido, injetada pelo caldo que eu, meu pai e meu irmão, tomamos em Ipanema e nos arremessou do mar até a Av. Vieira Souto.
#2 | Swing da Cor - Daniela Mercury
Eu recordo de estar na Bahia, em 1991, quando o torpedo de uma cantora novata explodiu e dizimou tudo da Barra até a Ondina, alçando Daniela Mercury ao posto de primeira Diva do Axé. Vieram vários outros hits, e várias outras divas, mas, na minha opinião, de pouca ou nenhuma credibilidade, ninguém e nenhuma outra música bateu Daniela Mercuri de Almeida Viçosa e seu primeiro sucesso nacional.
#3 | Pastilhas Coloridas - Mundo Livre S/A
O nosso The Clash, que ao invés de buscar inspiração em Brixton, foi até a Tijuca pedir a benção a Jorge Ben, fechou seu segundo álbum com uma cinematográfica canção sobre LSD, campos de pelada que somem e sonhos que murcham. Foi trilha sonora inescapável nos churrascos debaixo da árvore, grelha apoiada em tijolos, carnes de procedência duvidosa, no amplo quintal do Grajaú.
#4 | Unyielding Conditioning - Fishbone
O coletivo angeleno só pode ser comparado a seleção da França na capacidade de reunir “negros maravilhosos”, como certa vez bem definiu Luís Roberto, o hiperventilado narrador da Rede Globo (volta, Galvão!), sobre o agrupamento azul de futebol. Vi um show deles (da banda) em Curitiba em 2010 e: uau. Talvez a mais bem ajambrada fusão de ska, funk, punk, metal, reggae, soul, sem que, felizmente, ninguém possa acusa-los de banda “eclética”. Acima, um anfetamínico ska que, se você não trepidar, liga pra funerária e deita.
#5 | Doin’ Time - Sublime
Long Beach, na Califórnia, é terra de figuras meritórias para a cultura mundial, tais como o comediante Billy Cristal, a atriz Cameron Diaz, o diretor Walter Hill, bem como ofereceu ao mundo um dos maiores líderes políticos da atualidade, ao lado de Vladimir Putin e Donald Trump, o rapper e chaminé humana Snoop Dogg. Foi por lá também que o conjunto Sublime foi criado pelo vocalista e guitarrista Brad Nowell, em outra investida, curiosamente também bem-sucedida, de banda que mistura estilos, como o supracitado Fishbone. Nowell, colhido por uma dose de heroína aos 28 anos, alcançou o auge criativo no terceiro disco do Sublime, verdadeira coletânea de hits, entre eles, o dub com sample dos Beastie Boys.